domingo, 11 de novembro de 2007

CUIDE - Favela


Cuide
O Movimento Cuide é uma campanha de comunicação cujo slogan é “Consuma sem consumir o mundo em que você vive”. A campanha, criada pela agência Leo Burnett com o apoio de vários parceiros do Akatu, surgiu para disseminar o conceito e estimular a prática do consumo consciente, por meio de peças veiculadas em TV, rádio, internet, outdoor, jornais e revistas.

“CUIDE” é um chamado à ação e pretende despertar nos cidadãos a consciência de seu poder transformador e o compromisso com o futuro, tanto no que se aplica ao meio ambiente e à sociedade, quanto em relação ao próprio indivíduo e sua família. O movimento tem como meta mostrar o ato do consumo como um ato de cidadania - uma vez que o consumidor tenha consciência de que seu poder de escolha pode construir um mundo melhor.

A campanha é dividida em vários temas ligados ao consumo consciente, como o uso racional da água, dos alimentos, a maneira correta de descartar seu lixo, assim como a Responsabilidade Social Empresarial, entre outros temas.

Uma das peças publicitárias dessa campanha, chamada “Favela”, já recebeu várias premiações, entre elas o Leão de Ouro no Festival de Cannes e um prêmio especial concedido pela ONU (Organização das Nações Unidas), durante o Festival de Nova York em 2006.

Outra peça, chamada Tomate, também ganhou reconhecimento internacional, ao ser a mais votada durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O evento reuniu a elite econômica e política do planeta, de 26 a 30 de janeiro de 2006, na cidade suíça.
O movimento Cuide foi lançado na edição Inverno 2004 do São Paulo Fashion Week. Já na edição Verão 2004/2005 do mesmo evento, o Cuide esteve presente com a venda das sacolas, que são as peças-símbolo do movimento.

A FAVELA
A construção de um mundo melhor começa com o despertar da consciência. Ao ter consciência do impacto que consumo causa na natureza, nas relações sociais, na economia e no próprio indivíduo, é possível podemos maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos.

É justamente isso que o anúncio “Favela” faz: mostra que muitas coisas no mundo estão erradas, mas que nos acostumamos a vê-las e, com isso, elas passam a integrar nossa vida como se fossem corretas. Mas somos nós mesmos os atores capazes de mudar esta situação e construir um mundo melhor.


http://www.akatu.org.br/akatu_acao/campanhas/cuide

Jovens agridem prostitutas com pó químico no Rio


Três jovens estudantes e moradores da Barra, no Rio de Janeiro, sendo um deles menor de idade, foram detidos no início da madrugada deste domingo. Segundo a polícia, eles agrediram com a fumaça de um extintor de incêndio um grupo de prostitutas que fazia ponto na avenida Sernambetiba, na altura do clube Riviera.

Fernando Mattos Roiz Jr., 19 anos, Luciano Filgueiras Monteiro, 21 anos, e um menor de 18 anos foram interceptados por uma viatura policial e levados para uma delegacia da Barra, onde três prostitutas compareceram para registrar queixa pela agressão.
O trio havia saído de casa somente para a 'brincadeira' com extintor de pó químico retirado do prédio de Fernando. Por volta de 1h, após dispararem o extintor contra dois grupos de prostitutas, os estudantes foram seguidos por um engenheiro e mais dois amigos em outro veículo, que assistiram à cena e acionaram a polícia por telefone.
Na avenida das Américas, perto do Condomínio Parque das Rosas, os três jovens, assustados com o carro que os perseguia, pararam ao lado da viatura policial e foram detidos em seguida. O engenheiro, que não quis se identificar, foi até a delegacia para servir como testemunha.
As moças contaram que esse tipo de agressão é comum e acontece em quase todos os fins de semana, e além de extintores elas também costumam ser alvos de ovos e garrafas. Uma delas contou que um dos rapazes desceu do carro rindo e dizendo: "peguei elas".
Enquanto esperavam para ser ouvidos, agachados num canto da delegacia, os estudantes se mostraram arrependidos e disseram que pediriam desculpas às prostitutas. "Fizemos besteira, foi molecagem e estamos arrependidos. Estávamos no lugar errado, e na hora errada", disse Luciano, estudante de Direito.


Discriminar gays vai ser crime inafiançável


Após conseguir limpar a pauta com a aprovação de oito medidas provisórias, nesta quarta-feira, o plenário da Câmara conseguiu aprovar nesta quinta-feira quatro projetos de lei (PL) e uma MP, que seguem para análise do Senado. Entre os projetos aprovados nesta quinta está o o da deputada Iara Bernardi (PT-SP), que inclui novas situações tipificadas como crime resultante da discriminação ou preconceito.
O projeto estende a aplicação da Lei 7716/89 ao preconceito de gênero, sexo,
orientação sexual e identidade de gênero. Atualmente, a lei trata apenas dos crimes relacionados ao preconceito de raça, cor, etnia, religião e procedência
nacional.
O plenário também aprovou, por acordo, o Projeto de Lei do Poder Executivo, que
aumenta o valor do auxílio-invalidez pago a militares para R$ 1.089, retroativamente a 1º de janeiro de 2006, e o Projeto de Lei que cria o Fundo
Setorial do Audiovisual (FSA), vinculado ao Fundo Nacional de Cultura (FNC). A proposta cria incentivos fiscais para investimentos em produção cinematográfica
e em projetos independentes da radiodifusão brasileira. Com o projeto, a Agência
Nacional do Cinema (Ancine) terá uma capacidade maior de acompanhar o mercado e as receitas das empresas.
Também foi aprovada a MP que concede ao Ministério da Integração Nacional crédito extraordinário de R$ 13 milhões para o socorro à população do município
de Laranjal do Jari, no estado do Amapá, que teve casas e estabelecimentos
comerciais destruídos por um incêndio no dia 2 de outubro. Outro projeto aprovado foi o projeto de decreto legislativo que trata do Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotado em 2002, em Nova York.
Essa foi uma semana tranqüila em votações que há muito tempo não se via. Embora tenha sofrido derrota no Senado, a Câmara dos Deputados mostrou que sua maioria está disposta a ajudar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em votações importantes, os deputados aprovaram na quarta-feira a lei geral das
micro-empresas e o primeiro turno do Fundeb, ambos tidos como prioritários.
- É a fase pré-nupcial. É também a fase dos testes em que se pode avaliar aqueles que querem, de fato, ser governo. Tivemos uma semana ótima, o que mostra comando, estabilidade política e diálogo com a oposição - afirmou o vice-líder do governo, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS).

Fonte: O Globo Online

Major do Bope ironiza morte de seqüestrador do 174


Absolvido pela Justiça da acusação de assassinato, o major do Bope Ricardo Soares narrou em palestra a cerca de 130 policiais de todo o país como o seqüestrador do ônibus 174, Sandro do Nascimento, 21, morreu dentro de um camburão no Rio, em junho de 2000. O relato foi feito no fim de semana, em Porto Alegre.

"Eu não fiz questão realmente de ressuscitá-lo muito, não. Foi embora!", declarou, provocando risos na platéia. "Vou ser sincero: entre ele e eu, vai ele, porque tenho muita vida pela frente, se Deus quiser", disse.
Soares --capitão do Bope em 2000-- descreveu como, após resistência de Nascimento no carro policial, asfixiou o criminoso até ele desfalecer.

"Embarquei junto com Sandro. (...) Ele lutou muito conosco. Dois camaradas, dois soldados, estavam segurando as pernas dele, ele me mordeu, tentou se livrar do golpe e eu acabei apertando o pescoço dele, e aí ele desfaleceu. E eu não fiz questão realmente de ressuscitá-lo muito, não. Foi embora! (risos) A verdade é essa", disse, em relato gravado pela Folha.

Hoje chefe da seção de pessoal, correição disciplinar e processos administrativos do Bope, o major é instrutor de "progressão em favelas" no 9º SWAT, curso promovido pelo Cati (sigla em inglês para Centro para Imobilização de Táticas Avançadas), empresa especializada em treino policial.

Ele criticou o fato de ter sido preso administrativamente por 30 dias pelo episódio, ao lado de dois soldados. "Eu, particularmente, sofri muito. Fiquei preso por 30 dias de uma forma covarde, me prenderam para dar justificativa à Rede Globo."

O Cati prega o aperfeiçoamento de policiais e o uso da técnica em detrimento da violência, objetivando o menor número de mortos e feridos em ação. O carro-chefe é o ensino de táticas especiais de imobilização de suspeitos para o emprego policial, o que passou a ser difundido pelo mundo.

Outro chamariz do curso, que dura nove dias, são as aulas dadas por policiais da SWAT do Texas (EUA) sobre técnicas de resgate de reféns e confronto em ambientes confinados, visando reduzir a letalidade.

O procurador de Justiça Afrânio Silva Jardim disse que, embora tivesse admitido ter aplicado um "mata-leão" em Nascimento no inquérito, Soares teve comportamento diferente quando foi julgado. "No banco dos réus ele estava pianinho, de cabeça baixa, sem contar essas bravatas de agora. Falar isso em público assim passa um mau exemplo", afirmou.

Em junho de 2000, Sandro do Nascimento manteve 11 reféns por mais de quatro horas em um ônibus no Jardim Botânico (zona sul do Rio). Um policial do Bope avançou sobre o seqüestrador que já saíra do ônibus e disparou duas vezes. Errou os dois tiros (acertou o queixo da refém e errou o outro) e Sandro matou a refém, a professora Geísa Firmo Gonçalves, 20, com três tiros.

Nascimento foi asfixiado e morto depois de preso, no carro policial do Bope. Apesar de terem ficado presos na PM por um mês, Soares e os soldados Flávio do Val Dias e Márcio da Araújo David, que estavam no veículo, foram absolvidos pelo Tribunal do Júri por 4 a 3.

O Tribunal de Justiça confirmou a decisão --da qual não cabe recurso. Sindicância da PM não apontou culpados para a morte da professora.

"Fazendo um mea-culpa, a gente aprendeu muito, precisou sangrar para aprender muita coisa. Apesar de termos salvo a vida de 10 de 11 reféns", disse Soares aos policiais.

No final da palestra, logo depois de comentar o caso 174, ele gritou o lema do Bope: "Caveira!" A platéia, empolgada, respondeu: "Caveira!"

Polêmica

O major Ricardo Soares, do Bope, disse à Folha por telefone que contou o episódio do ônibus 174 para os policiais alunos do curso "porque muita gente falou besteira na época" sobre o caso e há "curiosidade" em razão da repercussão. Soares disse que não pretendia criar polêmica. "Até porque já fui absolvido, já está resolvido."

O major do Bope negou ter usado de ironia na descrição da morte de Sandro do Nascimento e reclamou que o caso só é lembrado pela morte da professora Geísa Firmo Gonçalves e do criminoso. "Salvamos dez dos 11 reféns e só se frisou a morte da menina -que foi ele, como já comprovado", disse.

"Não é ironia, não. Sabe o que é bacana do "Tropa de Elite"? É que ele parou de romantizar. Os filmes romantizam o bandido, o criminoso, e Sandro era um voraz assassino e consumidor de drogas. Aí fica aquele pessoal romântico: "ah, coitadinho", a sociedade hipócrita. Disse isso, e é verdade: não me mobilizei para fazer [socorro]. Pensei que ele estava desmaiado. Quando desfaleceu, inicialmente não acreditei que ele estava morto. Só vimos quando chegamos ao hospital e ele não reagia; e no hospital pedimos toda a atenção e botamos ele na maca com presteza." O major afirmou ainda que não tinha objetivo de matar Nascimento, mas de "cessar a agressão" aos policiais.

"Foi realmente que eu não tinha condições na hora de efetuar o socorro. Estava em um cubículo, na parte de trás da viatura, não tinha visão, sabia que o camarada desfaleceu. Envolvi o pescoço dele, até ele cessar a agressão: ele já tinha chutado o vidro da viatura, me mordeu e ficou chutando os policiais que tentavam acalmar a perna dele. Nesse embate, apertei o pescoço, gritando até, e depois ele desfaleceu", disse.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u344131.shtml

domingo, 4 de novembro de 2007

CAVEIRÃO DO HUCK e TROPA DE ELITE




CACTOS INTACTOS acaba de apurar, com exclusividade, que - em função de um recente pronunciamento do apresentador de TV Luciano Huck favorável ao esquadrão da morte oficial representado pelo BOPE - o nome do seu programa semanal sofrerá uma sutil alteração, passando a se chamar Caveirão do Huck.
O caveirão, como se sabe, faz alusão ao veículo blindado de guerra covardemente empregado pela polícia para invadir comunidades pobres, matando moradores indiscriminadamente, sob o pretexto falacioso de reprimir o tráfico de entorpecentes.

A tese levantada por Tropa de Elite, esta obra repugnante, segundo a qual o usuário de drogas é o principal responsável pela violência urbana, está encorajando a direita a sair do armário.

Qualquer pessoa tem todo o direito de ser entusiasta dos métodos torpes do Capitão Nazi-mento, herói psicopata de um filme inacreditável, que tem revelado, excitado e galvanizado fascistas histéricos e incontroláveis por todo o país.

Difícil é acreditar que, milionário como é e com um nariz daquele tamanho, Huck nunca tenha dado sequer uma cafungada nas baladas descoladas da alta sociedade que costuma freqüentar.

Pois esta corja de neo-fascistas já elegeu um bode-expiatório sobre o qual jogar a culpa pelo descontrole da segurança pública: os usuários de substâncias psicoativas que, na verdade, contribuem, indiretamente, para mitigar os índices de assaltos, seqüestros e roubos comprando, por livre e espontânea vontade, no mercado clandestino, produtos que deveriam estar disponíveis em locais mais apropriados: as drogarias.

Sem o dinheiro proveniente do tráfico, os bandidos, para sobreviver, tornariam gradativamente intransitáveis e inabitáveis megalopolis como o Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo. Os endinheirados fugiriam do país e a classe média seria trucidada nas ruas pelo lumpesinato faminto e revoltado.


TROPA DE ELITE:
A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA!

Ivan Pinheiro

"Homem de preto.
Qual é sua missão?
É invadir favela
E deixar corpo no chão"
(refrão do BOPE)

Não dá cair no papo furado de que "Tropa de Elite" é "arte pura" ou "obra aberta". Um filme sobre questões sociais não podia ser neutro. Trata-se de uma obra de arte objetivamente ideológica, de caráter fascista, que serve à criminalização e ao extermínio da pobreza. É possível até que os diretores subjetivamente não quisessem este resultado, mas apenas ganhar dinheiro, prestígio e, quem sabe, um Oscar. Vão jurar o resto da vida que não são de direita. Aliás, você conhece alguém no Brasil, ainda mais na área cultural, que se diga de direita?

Como acredito mais em conspirações do que no acaso, não descarto a hipótese de o filme ter sido encomendado por setores conservadores. Estou curioso para saber quais foram os mecenas desta caríssima produção, que certamente foi financiada por incentivos fiscais.

O filme tem objetivos diferentes, para públicos diferentes. Para os proletários das comunidades carentes, o objetivo é botar mais medo ainda na "caveira" (o BOPE, os "homens de preto"). O vazamento escancarado das cópias piratas talvez seja, além de uma estratégia de marketing, parte de uma campanha ideológica. A pirataria é a única maneira de o filme ser visto pelos que não podem pagar os caros ingressos dos cinemas. Aliás, que cinemas? Não existe mais um cinema nos subúrbios, a não ser em shopping, que não é lugar de pobre freqüentar, até porque se sente excluído e discriminado.

No filme, os "caveiras" são invencíveis e imortais. O único que morre é porque "deu mole". Cometeu o erro de ir ao morro à paisana, para levar óculos para um menino pobre, em nome de um colega de tropa que estava identificado na área como policial. Resumo: foi fazer uma boa ação e acabou assassinado pelos bandidos.

Para as classes médias e altas, o objetivo do filme é conquistar mais simpatia para o BOPE, na luta dos "de cima", que moram embaixo, contra os "de baixo", que moram em cima.

Os "homens de preto" são glamourizados, como abnegados e incorruptíveis. Apesar de bem intencionados e preocupados socialmente, são obrigados a torturar e assassinar a sangue frio, em "nosso nome". Para servir à "nossa sociedade", sacrificam a família, a saúde e os estudos. Nós lhes devemos tudo isso! Portanto, precisam ser impunes. Você já viu algum "caveira" ser processado e julgado por tortura ou assassinato? "Caveira" não tem nome, a não ser no filme. A "Caveira" é uma instituição, impessoal, quase secreta.

Há várias cenas para justificar a tortura como "um mal necessário". Em ambas, o resultado é positivo para os torturadores, ou seja, os torturados não resistem e "cagüetam" os procurados, que são pegos e mortos, com requintes de crueldade. Fica outra mensagem: sem aquelas torturas, o resultado era impossível.

Tudo é feito para nos sentirmos numa verdadeira guerra, do bem contra o mal. É impossível não nos remetermos ao Iraque ou à Palestina: na guerra, quase tudo é permitido. À certa altura, afirma o narrador, orgulhoso : "nem no exército de Israel há soldados iguais aos do BOPE".

Para quem mora no Rio, é ridículo levar a sério as cenas em que os "rangers" sobem os morros, saindo do nada, se esgueirando pelas encostas e ruelas, sem que sejam percebidos pelos olheiros e fogueteiros das gangues do varejo de drogas! Esta manipulação cumpre o papel de torná-los ainda mais invencíveis e, ao mesmo tempo, de esconder o estigmatizado "Caveirão", dentro do qual, na vida real, eles sobem o morro, blindados. O "Caveirão", a maior marca do BOPE, não aparece no filme: os heróis não podem parecer covardes!

O filme procura desqualificar a polêmica ideológica com a esquerda, que responsabiliza as injustiças sociais como causa principal da violência e marginalidade. Para ridicularizar a defesa dos direitos humanos e escamotear a denúncia do capitalismo, os antagonistas da truculência policial são estudantes da PUC, "despojados de boutique", que se dão a alguns luxos, por não terem ainda chegado à maioridade burguesa.

Os protestos contra a violência retratados no filme são performances no estilo "viva rico", em que a burguesia e a pequena-burguesia vão para a orla pedir paz, como se fosse possível acabar com a violência com velas e roupas brancas, ou seja, como se tratasse de um problema moral ou cultural e não social.

A burguesia passa incólume pelo filme, a não ser pela caricatura de seus filhos que, na Faculdade, fumam um baseado e discutem Foucault. Um personagem chamado "Baiano" (sutil preconceito) é a personificação do tráfico de drogas e de armas, como se não passasse de um desses meninos pobres, apenas mais espertos que os outros, que se fazem "Chefe do Morro" e que não chegam aos trinta anos de idade, simples varejistas de drogas e armas, produtos dos mais rentáveis do capitalismo contemporâneo. Nenhuma menção a como as drogas e armas chegam às comunidades, distribuídas pelos grandes traficantes capitalistas, sempre impunes, longe das balas achadas e perdidas. E ainda responsabilizam os consumidores pela existência do tráfico de drogas, como se o sistema não tivesse nada a ver com isso!

O Estado burguês também passa incólume pelo filme. Nenhuma alusão à ausência do Estado nas comunidades carentes, principal causa do domínio do banditismo. Nenhuma denúncia de que lá falta tudo que sobra nos bairros ricos. No filme, corrupção é um soldado da PM tomar um chope de graça, para dar segurança a um bar. Aliás, o filme arrasa impiedosamente os policiais "não caveiras", generalizando-os como corruptos e covardes, principalmente os que ficam multando nossos carros e tolhendo nossas pequenas transgressões, ao invés de subirem o morro para matar bandido.

A grande sacada do filme é que o personagem ideológico principal não é o artista principal. Este, branco, é o que mais mata. Ironicamente, chama-se Nascimento. É um tipo patológico, messiânico, sanguinário, que manda um colega matar enquanto fala ao celular com a mulher sobre o nascimento do filho.

Mas para fazer a cabeça de todos os públicos, tanto os "de cima" como os "de baixo", o grande e verdadeiro herói da trama surge no final: Thiago, um jovem negro, pacato, criado numa comunidade pobre, que foi trabalhar na PM para custear seus estudos de Direito, louco para largar aquela vida e ser advogado. Como PM, foi um peixe fora d'água: incorruptível, respeitava as leis e os cidadãos. Generoso, foi ele quem comprou os óculos para dar para o menino míope. Sua entrada no BOPE não foi por vocação, mas por acaso.

Para ficar claro que não há solução fora da repressão e do extermínio e que não adianta criticar nem fazer passeata, pois "guerra é guerra", nosso novo herói se transforma no mais cruel dos "caveiras" da tropa da elite, a ponto de dar o tiro de misericórdia no varejista "Baiano", depois que este foi torturado, dominado e imobilizado. Para não parecer uma guerra de brancos ricos contra negros pobres, mas do bem contra o mal, o nosso herói é um "caveira" negro, que mata um bandido "baiano", de sua própria classe, num ritual macabro para sinalizar uma possibilidade de "mobilidade social", para usar uma expressão cretina dos entusiastas das "políticas compensatórias".

A fascistização é um fenômeno que vem sendo impulsionado pelo imperialismo em escala mundial. A pretexto da luta contra o terrorismo, criminalizam-se governos, líderes, povos, países, religiões, raças, culturas, ideologias, camadas sociais.

Em qualquer país em que "Tropa de Elite" passar, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, o filme estará contribuindo para que a sociedade se torne mais fascista e mais intolerante com os negros, os imigrantes de países periféricos e delinqüentes de baixa renda.

No Brasil, a mídia burguesa há muito tempo trabalha a idéia de que estamos numa verdadeira guerra, fazendo sutilmente a apologia da repressão. Sentimos isso de perto. Quantas vezes já vimos pessoas nas ruas querendo linchar um ladrão amador, pego roubando alguma coisa de alguém? Quantas vezes ouvimos, até de trabalhadores, que "bandido tem que morrer"?

Se não reagirmos, daqui a pouco a classe média vai para as ruas pedir mais BOPE e menos direitos humanos e, de novo, fazer o jogo da burguesia, que quer exterminar os pobres, que só criam problemas e ainda por cima não contam na sociedade de consumo. Daqui a pouco, as milícias particulares vão se espalhar pelo país, inspiradas nos heróicos "homens de preto", num perigoso processo de privatização da segurança pública e da justiça. Não nos esqueçamos do modelo da "matriz": hoje, os mais sanguinários soldados americanos no Iraque são mercenários recrutados por empresas particulares de segurança, não sujeitos a regulamentos e códigos militares.

Parafraseando Bertolt Brecht, depois vai sobrar para nós, que teimamos em lutar contra o fascismo e a barbárie, sonhando com um mundo justo e fraterno.

A trilha sonora do filme já avisou:

"Tropa de Elite,
Osso duro de roer,
Pega um, pega geral.
Também vai pegar você!"

'Civilizando' a Amazônia do Equador: Corporativismo Colonial


RJ-2007 - by Crau


'Não fosse pela companhia [Skanska], eles ainda estariam vivendo de bananas e não conhecer nada além da floresta – exato como são os macacos. A despeito de tudo, esta ainda é uma república de bananas subdesenvolvida'.]

As extensas e ambientalmente destrutivas operações da construtora sueca Skanska na América Latina são pouco conhecidas na Europa. Longe da companhia amigável à natureza que ela alega ser, o discurso cosmético sobre o desenvolvimento e progresso que permeia a companhia de capital 100% sueco é racista e colonialista na prática.

Por mais ou menos mais de um ano e meio, a base da Skanska está localizada fora da cidade do petróleo de Coca na destroçada província de floresta úmida tropical de Orellana. As atividades da companhia, conduzidas em cooperação com as companhias petrolíferas em vários campos na região são controlados daqui. Um dos gerentes regionais da Skanska na bacia amazônica é Milton Diaz, um homem com muitas décadas de experiência na indústria do petróleo. Ele trabalhava para a Skanska em sua terra natal, Argentina, onde a sede continental da empresa se localiza.

De uma série de encontros e entrevistas com Diaz e seus colegas realizada no Equador, (a partir da primavera de 2006) pela cientista política Hanna Dahlström e eu, montamos um quadro coeso dos líderes da Skanska. As opiniões expressas por Diaz representam um racismo cultural, no qual a população do Equador no geral e em particular os povos indígenas são descritos em termos bastantes pejorativos. 'O povo aqui da floresta deveria ser grato ao invés de apenas reclamar e fazer exigências absurdas”, ele argumenta. 'Não fosse pela companhia, eles ainda estariam vivendo de bananas e não conhecer nada além da floresta – exato como são os macacos. A despeito de tudo, esta ainda é uma república de bananas subdesenvolvida'.

Infelizmente, as opiniões de Diaz não são incomuns. O discurso racista ao qual dá voz está alinhado com as perspectivas convencionais de companhias do hemisfério norte sobre a cultura e desenvolvimento do Sul global. Conceitos como 'estúpidos', 'república das bananas' e 'baixa cultura' são levados a simbolizar os Outros, que são locais e assim-chamados subdesenvolvidos. 'Tudo o que as pessoas pensam por aqui é ficar de papo pro ar e procurando prazeres. Ninguém assume responsabilidade por nada… Eles não percebem que as companhias deram tudo a eles. Estradas, pontes – tudo o que vemos à nossa volta', diz Milton Diaz, abrindo seus braços largamente para mostrar uma vasta área industrial onde um dia ficou a floresta úmida tropical.

O mito corporativo do desenvolvimento sustentável

De acordo com a Skanska, seu objetivo é promover 'desenvolvimento sustentável' praticando as alternativas mais amigáveis à natureza possíveis. Contudo, essas visões são obviamente e inteiramente dependentes de regulamentação externa. Victor Vazquez é o gerente ambiental da Skanska na mesma região em que Diaz trabalha. Vazquez alega que a Skanska queima gases tóxicos (produtos de escória) ao ar livre, mesmo sendo esse um procedimento extremamente poluidor. A explicação de Vazquez para esse comportamento é que o Estado equatoriano não tem os recursos para operacionalizar leis ambientais pertinentes a tamanha falta de consideração ambiental. 'O Equador não é ainda desenvolvido assim, e não há incentivo para investimentos em tecnologia melhor. Em outros países, como a Argentina, naturalmente, usamos as melhores tecnologias disponíveis', diz.

De acordo com petroleiros do Bloco 18, onde a companhia sueca trabalha com a gigante brasileira do petróleo, Petrobras, a queima de gás no campo é tão extensiva que não há nada vivo à vista. Isto, se nada mais, confirma que a tecnologia amigável à natureza e o desenvolvimento sustentável com os quais a Skanska quer ser associada não são nada além de propaganda.

Um outro argentino em posição de gerência na Skanska na região amazônica é Oswaldo Contreras. Ele também, francamente admite que a extração de petróleo sempre tem um número de lados negativos sujos. 'Perfuração de petróleo nunca tem como ser amigável à natureza. Mas é uma dessas coisas com as quais se tem de viver', ele diz, dando de ombros.

Diferente da população local, que é forçada a conviver com a poluição, Contreras não tem que se preocupar com encontrar petróleo em sua água de beber. Nem tem ele de se preocupar com o alto risco de desenvolver qualquer dos oito tipos de câncer relacionados ao petróleo ou vários outros problemas de saúde associados com as emissões da indústria do petróleo na região amazônica. E exatamente como Milton Diaz, Contreras argumenta em termos de benefícios que a população recebe pela presença da indústria. 'Skanska', ele se vangloria, 'construiu uma estrada para a população local em Campo Bermejo na fronteira colombiana. Esse é o tipo de coisa que chamamos de compensação…'

Extorsão e mentiras

De acordo com o inspetor ambiental Marcos Baños, chefe da autoridade ambiental em Coca e na província de Orellana, Skanska comporta-se de maneira suspeita e mostra grande desrespeito na região. Baños diz que representantes da companhia têm visitado a autoridade para se oferecer para executar 'projetos'. 'Eu considerei isso extorsão', explica o inspetor ambiental. Baños relata mais à frente que a Skanska é uma das companhias mais escorregadias que ele tem que lidar em seu trabalho. E é difícil duvidar do que ele diz, já que a informação que ele tem sobre a Skanska inegavelmente complementa a figura de uma companhia que tenta falsificar para driblar as leis e regulamentos a qualquer preço. Ele não está sozinho ao retratar a Skanska na região amazônica.
Raul Vega, no escritório ambiental provincial em Coca, acrescenta mais escândalos às histórias nebulosas sobre a Skanska. Ele também está bastante desapontado com o modo de operação da Skanska no Equador – mostrando nenhuma consideração pelas pessoas ou leis ambientais e completa falta de respeito pelas agências governamentais e povos indígenas. 'Oswaldo Contreras foi a primeira pessoa da Skanska que contatamos', Vega explica, 'e ele se recusou a dar a informação que requeremos. Se apenas eles tivessem nos mostrado que tinham feito estudos ambientais, teríamos dado a permissão… Mas não foi até uma ocasião no futuro que a Skanska submeteu qualquer informação a nós. E a informação mesmo acabou provando ser falsa. A companhia alegou que tinha realizado estudos ambientais, o que foi uma completa mentira'.

Quando o Business criou a Terra

De acordo com os gerentes regionais da Skanska, é graças à companhia que os povos indígenas finalmente têm a sua oportunidade de se civilizarem. Esta visão não é exclusiva de líderes corporativos em países em desenvolvimento, mas compartilhada por ideólogos neoliberais na Europa – como Johan Norberg, cuja atitude para com culturas não-industrializadas é igualmente crassa e preconceituosa. O livro de Norberg, När Människan Skapade Världen ('Quando O Homem Criou O Mundo', Timbro: 2006) expressa uma assustadora falta de entendimento para culturas não-industrializadas cujos países estão ocupados por companhias ocidentais como Skanska e gigantes inescrupulosos do petróleo. De acordo com Norberg, a globalização, o livre mercado e a produção industrial são uma receita universal para o bem-estar social e a felicidade. Porque, no mundo de Norberg a história humana tem sido consistentemente 'uma história de miséria sem fundo' – uma perspectiva que não só é ignorante, como também leva a um etnocentrismo letal quando adotado por grandes companhias para justificar seu comportamento de rapina no hemisfério sul. 'No início, todos éramos países em desenvolvimento', argumenta Norberg, sem se preocupar com a dominação imperialística que regularmente destrói culturas aborígines que desesperadamente lutam pela sobrevivência, contra corporações multinacionais e governos corruptos.

Contudo, a atitude de Norberge da Skanska é tanto incorreta quanto racista. De acordo com os povos indígenas, sua cultura não é subdesenvolvida e suas vidas não eram miseráveis antes que as companhias lançassem sua 'Operação Civilização' na selva. Ao contrário, é o conceito de desenvolvimento ocidental que representa a morte e destruição na bacia amazônica.

Diferente de Johan Norberg, o qual a despeito de uma carreira bem-sucedida como escritor só consegue distorcer perspectivas, companhias como a Skanska infelizmente têm um poder físico junto a culturas que tenham o azar de ficar em seu caminho. E sob as relações desiguais entre populações, grandes companhias, sociedades civis e estados, especialmente no hemisfério sul, Skanska mostrou representar retrocesso cultural e ecológico ao invés da 'responsabilidade social' e 'desenvolvimento sustentável' que ela alega oferecer ao mundo.

Hoje, há uma importante luta pelo futuro e a resistência crucial contra a exploração do petróleo em ecossistemas sensíveis e em territórios indígenas. Redes que lutam contra a indústria devastadora na América Latina são a Oilwatch, a equatoriana Acción Ecologica e Frente de Defensa de la Amazonia (FDA). Survival International é uma outra organização com e pelos povos tribais em volta do mundo.

Por Agneta Enström

Blog de denúncia da Skanska: www.skamska.blogg.se
Oilwatch: www.oilwatch.org
Acción Ecologica: www.accionecologica.org
Frente de Defensa de la Amazonia: www.texacotoxico.com
Survival International: www.survival-internacional.org

Tradução: Matias Romero



agência de notícias anarquistas-ana

silêncio
o passeio das nuvens
e mais nenhum pio

Alonso Alvarez