quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

O eterno dilema entre o masculino e o feminino


Temos atitudes machistas, percebemos e não mudamos. Queremos agir de uma maneira libertária quando estamos nos relacionando, mas continuamos mantendo/vivendo relações com práticas patriarcais.
Isto não é culpa dos libertários nem das libertárias, de homens nem mulheres. Li, certa vez, a letra de uma música feita por um amigo que em seu inicio dizia assim:
“A mulher que é submissa, que leva porrada, não reage, se cala, se iguala, ao machista bruto, estúpido e idiota”. Não vejo desta forma. Ela não se iguala ao machista quando se cala perante a violência, simplesmente porque esta cultura patriarcal está tão arraigada em nós, que ela vê como “normal” um homem agredi-la, a mulher não foi educada para reagir e quando digo educada, digo que a mulher não foi feita para gritar, dizer que o marido/companheiro a maltrata, a sociedade logo diz: “como pode, se ele é o companheiro dela?” Além do mais, as mulheres não têm auto-estima e pensam que não poderão ser felizes sem um homem do lado. Se nós temos um teor de questionamento apurado, e ainda agimos de maneira machista, imaginem @s burgueses, que não têm nenhum! Não podemos culpabilizar mulheres nem homens, pois é a cultura patriarcal que gera @s monstrinh@s.
Noto nas conversas com amigas libertárias aqui em João Pessoa que a existência de comportamentos machistas e consequentemente o estabelecimento de papéis de gênero ainda é tão presente na sociedade e por isso minha insistência em sempre tocar no assunto. Porque ele existe, acontece e incomoda. E é muito fácil para o homem apontar a mulher como culpada e dizer que ela sempre se faz de vitima, pois para ele, seja libertário ou não, as coisas são mais fáceis, reservando algumas diferenças. É fácil dizer que ela busca um príncipe encantado e por isso cai do castelo quando ele a deixa sozinha no bar e no outro dia nem a cumprimenta direito. Para o homem é muito fácil agir desta forma, pois ele conseguiu quebrar o laço com o sentimento, e as mulheres ainda estão fazendo isto.
Já ouvi um cara dizer que quando nós mulheres reclamamos demais ou até temos uma atitude raivosa, é porque estamos descontroladas, desesperadas e até histéricas!? Isto me remete ao século XVIII onde os senhores médicos nos taxavam com esta mesma palavra “histérica”, quando não suportávamos mais a opressão masculina e gritávamos pelas ruas, ou então enlouquecíamos, sendo colocadas imediatamente nos manicômios.
Inclusive, cabe colocar um dado sobre os manicômios: observem em suas cidades e vejam o número de mulheres e homens internos. O de mulheres é bem maior que o dos homens. E porque será?
Voltando ao assunto. Nem os homens nem as mulheres são culpados por agirmos de maneira machista, o patriarcado, a palavra, faz com que isto aconteça. Como diz a feminista, Rose Marie Muraro, em seu livro, A mulher no terceiro milênio, no capitulo que fala do patriarcado: “Através da palavra, a maternidade pode ser vista como uma grande força sagrada, ou como uma vulnerabilidade. Da mesma forma, o homem é percebido ou como um elemento marginal nas culturas matricêntricas ou como um macho dominador das culturas agrárias mais recentes”.
Mas, se temos consciência disso, porque não mudamos? Porque sempre fugimos, principalmente os homens, das discussões sobre machismo na cena punk? Porque sempre fragilizamos as mulheres, e porque não buscamos por si mesmos discutir tais temas? Porque nós mulheres nos calamos? Li no informativo do Coletivo Ideal Peres, Libera..., do Rio de Janeiro, uma entrevista com o grupo Mujeres Libres, da Espanha, em que elas diziam que quando falavam em uma mulher livre, os anarquistas próximos a elas sempre imaginavam uma mulher sem roupa, nua. Parei para analisar tal colocação e percebi que nas gigs punks, mulheres ficam mais livres (o próprio ambiente propicia isto) e os homens também e então os encontros amorosos acontecem. Mas, o que estes homens pensam destas mulheres livres? Que entre el@s pode haver sexo e de uma maneira “muito anarquista” pode-se ir embora e no outro dia se tratam friamente? E as suas companheiras, como são tratadas? Que uma mulher livre não tem sentimentos?
O que representa uma menina punk/libertária em uma gig punk ou em qualquer ambiente?
E com mulheres que são o oposto das mulheres livres, como agem? Se desejam um relacionamento livre, porque se casam/se juntam com mulheres que são o oposto das mulheres que eles cantam nas letras de músicas e em seus discursos em zines?
Nossos comportamentos talvez se expliquem devido a séculos de uma cultura patriarcal, que coloca o homem como dominador, a mulher como dominada, o que começou a acontecer após o enfraquecimento das sociedades agrárias e quando o homem começou a descobrir a sua função no ato sexual.
A mulher está ligada à natureza, diz a feminista Rose Marie Muraro, e esta natureza começou a ser dominada pelo homem, a partir do momento que o patriarcado começou a se solidificar. Mas, voltemos às mulheres livres. Porque os homens libertários desejam se relacionar com mulheres livres e, no entanto, fazem casamentos que beiram a tradicionalidade, com mulheres conservadoras e que castram nelas mesmas a própria felicidade? Porque as mulheres livres que questionam tudo isso metem medo? Seria por isso que as mulheres livres não encontram parceiros/companheiros, mas sim relacionamentos momentâneos porque os alternativos/punks/libertários ainda preferem relacionamentos tradicionais??
Talvez as respostas a estas perguntas não existam, ou como outro dia um anarquista disse “ninguém manda no coração”. Esta não seria uma explicação simplista demais? Ou talvez não existam respostas e se elas existem podem estar neste trecho do livro de Rose Marie Muraro, A mulher no terceiro milênio.
“Quando a cultura matricêntrica dá lugar ao patriarcado, rompem-se os laços de afeição que uniam mulheres às outras mulheres. Agora, é a mulher que quando se casa vai para a casa do marido. A partir da dominação econômica exercida sobre ela pelo marido e sua família, a mulher introjeta a sua inferioridade. E esta introjeção se traduz em dependência psicológica em relação ao homem em tendências masoquistas ( sentir prazer em humilhações e sofrimentos) frigidez e carência sexual. Enquanto as mulheres se dividem entre si, os homens continuam capazes de fazes alianças e muitas vezes de viver em grupos solidários, o que reforça então a sua superioridade construída sobre a divisão das mulheres. Quando se torna adulto, o homem já não é capaz de amar a mulher. Ele cinde o desejo sexual do afeto e, com isto, cinde também a imagem da mulher. De um lado a esposa, a santa, a sucessora da mãe, que pertence ao domínio do afeto. De outro a prostituta (a libertária, a punk, a alternativa) aquela que pertence ao domínio do prazer. Assim, o homem se divide para não se entregar, pois desde a infância aprendeu que entregar-se ao amor é ser castrado, e portanto, morrer, ser vencido. Cada um, pois, homem e mulher, assume o seu lugar no sistema patriarcal a partir do mais intimo de si mesmo, sem saber que são ambos fabricados para serem o combustível do sistema, vivendo papéis que este lhes destinou.”

E então, foram (in) felizes para sempre!

2 comentários:

Unknown disse...

Ei, rapaz, não se engane quando digo que te desejo
Antes de tudo meu corpo é meu!
E só a quem quero eu deixo que o toquem.
Antes que você pense que pode chegar e tomar posse dele
Fique alerta! Porque só a mim mesma pertenço e me basto!
Meu corpo é meu!
Não precisa temer a liberdade, nós mulheres somos livres pra amar como quisermos
E quem quisermos. Queremos liberdade e não chicotes, tão pouco ser usadas!
Será que ainda estás perdido na revolução que estamos fazendo?
A da cama é a que mais te assusta, pois não?!
Eu não sou objeto de sua satisfação pessoal egoísta!
Eu não sou objeto! De ninguém!!!
Sou uma mulher e a mim mesma me basto!

Mabel Dias
21/02/2007

Obs:. a mesma autora do texto...

Unknown disse...

Olha como os pés da Claudinha são lindos.......